segunda-feira, fevereiro 28, 2005

Sobre as asas

É das mãos que extrais a mutação dos olhares,
Quando operas no centro dos seus pulsos
Os nervos que te percorrem as asas.

É científica a forma como modelas o voo
Com o leme dos meus dedos cruzados
Ao abrires na gaveta do peito
O mundo onde te adormece a alma.

É directamente do beijo que extirpas os lábios
Com o punhal que te deixei
(sobre a mesa)
Na posição única de seres domado.

É através de ti que o tempo pára
No exacto segundo antes me atravessares o parapeito.
E quando o anjo mora num corpo de homem
É nas minhas costas que lhe crescem as asas.

D.P.

quarta-feira, fevereiro 23, 2005

queda

às vezes, para não cairmos,
agarrávamos os tendões do incêndio
e por detrás da noite
dissolvíamos a espera.

ainda tenho guardada
a textura lenta do teu fôlego
no ventre dos dedos.

às vezes, para não cairmos,
tu colavas o teu nome ao meu
de modo a que a minha pele
fosse uma continuação da tua.

mas partiste
ou talvez nunca tenhas vindo

e encontro-te num sonho velho,
tão amarrotado como o silêncio do quarto
qual lâmina acesa no linho da memória.



Sara F. Costa
Poema vencedor do Prémio Literário Correntes d'Escritas / Papelaria Locus.

terça-feira, fevereiro 22, 2005

Correntes d'Escritas 2005

Eu sou aquela ali, toda vaidosa com a minha boina branca.

S.C.

terça-feira, fevereiro 15, 2005

Mar adentro, mar adentro.
Y en la ingravidez del fondo
donde se cumplen los sueños
se juntan dos voluntades
para cumplir un deseo.

Un beso enciende la vida
con un relámpago y un trueno
y en una metamorfosis
mi cuerpo no es ya mi cuerpo,
es como penetrar al centro del universo.

El abrazo más pueril
y el más puro de los besos
hasta vernos reducidos
en un único deseo.

Tu mirada y mi mirada
como un eco repitiendo, sin palabras
'más adentro', 'más adentro'
hasta el más allá del todo
por la sangre y por los huesos.

Pero me despierto siempre
y siempre quiero estar muerto,
para seguir con mi boca
enredada en tus cabellos.

Ramon Sampedro

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

(Pós-)Impressionistas

Como qualquer aluno de história da arte do 12º ano sabe (por mais desinteressado que seja) Cézanne é Pós-Impressionista.

“Paul Cézanne, pós-impressionista, introduziu mais estrutura no que via como uma prática não sistemática do impressionismo. Os objectos aparecem de forma mais sólida e tangível nas suas pinturas do que nas obras dos seus colegas impressionistas.”

Ou seja, Cezánne foi autor de uma série de elementos de ruptura com o impressionismo, criticando os seus cânones. Acho que ele não ia gostar de saber que me estão sempre a chegar ao correio panfletos que dizem ‘tenha também a sua tela impressionista’ e exibem uma série de telas de Cézanne. As pessoas confundem tudo. Está bem, tem lá a palavra ‘impressionismo’ mas também tem o prefixo ‘pós’ para alguma coisa, certo?

S.C.