quinta-feira, abril 28, 2005

Anjo Fragmentado

Somos de um lugar onde um gesto arde com o silêncio.

O nosso olhar foi feito para se misturar com a voz
A desmaiar no poente dos campos.
E como uma ave, sabemos todas as formas de sufocar a alma.

Somos de um lugar onde os homens se cobrem com as asas.

A cada esquina espreitamos para lá dos dias
Tão naturalmente como abandonamos a vida
Por caminhar com as mãos asfixiadas.

Sempre à mesma hora esperamos pelo mesmo barco
E talvez ele nunca faça escala nestes lugares.
Somos a mesma melancolia espreitando pela mesma janela
Mas a linha que nos separa neste momento,Separa-nos para toda a eternidade.

D.P.

terça-feira, abril 19, 2005

Um outro anjo

Os espelhos são o caminho
Por onde vem e vai a morte.
O seu azougue cinzento grava e emite
O bater do pêndulo do tempo
Como castigos que sulcam o olhar
E despojam a vida.

Da minha vigia solitária,
Teria sentido abrir a válvula da memória
Agora que já não dói?
Como fotografias alheias, sépias
E pouco fiéis, tentarei
Agarrá-las e esquecê-las antes que o tempo se acabe.

in El Ángel Yuxtapuesto, Julio Herranz (IX Prémio de Poesia Ciudad de Torrevieja)

Tradução de David Teles Pereira

D.P.