Os Barcos
Sou de um lugar onde os homens partem com as costas voltadas à casa.
No parapeito dos dias as mulheres tecem as suas tristezas,
As crianças brincam aos barcos como se espreitassem para lá das vidas.
Do mar apenas falamos como hipérbole da nossa alma,
À medida que vamos sendo incapazes de distinguir o sangue do sal
Na hora de cozinhar as melancolias.
Nos portos sondamos através da fechadura dos mares
O início da nossa história e eis que vemos os nossos pais
A naufragar com os sonhos deste império.
Somos do mar como a alma é da dor ao fragmentar-se a vida.
Vestimos o olhar de espelhos, viramos as costuras ao corpo.
Imitamos o homem da casa a que desconhecemos o rosto.
Nasci num lugar onde ninguém nos segue ao adormecer,
Onde as nossas mães, de olhares cristalizados na partida,
Apenas esperam que a saudade chegue para morrer.
E eu morri sem ter visto o meu pai regressar a casa.
Ele de costas voltadas à terra e eu sem olhar o mar,
Nunca fomos alimento suficiente para o amor.
Nunca fomos mais do que a explicação de um pequeno reino
Que vive com a parte de dentro do corpo exposta ao sol,
Para que os braços crespados pelas queimaduras
Nunca mais voltem a sonhar com barcos.
D.P.
No parapeito dos dias as mulheres tecem as suas tristezas,
As crianças brincam aos barcos como se espreitassem para lá das vidas.
Do mar apenas falamos como hipérbole da nossa alma,
À medida que vamos sendo incapazes de distinguir o sangue do sal
Na hora de cozinhar as melancolias.
Nos portos sondamos através da fechadura dos mares
O início da nossa história e eis que vemos os nossos pais
A naufragar com os sonhos deste império.
Somos do mar como a alma é da dor ao fragmentar-se a vida.
Vestimos o olhar de espelhos, viramos as costuras ao corpo.
Imitamos o homem da casa a que desconhecemos o rosto.
Nasci num lugar onde ninguém nos segue ao adormecer,
Onde as nossas mães, de olhares cristalizados na partida,
Apenas esperam que a saudade chegue para morrer.
E eu morri sem ter visto o meu pai regressar a casa.
Ele de costas voltadas à terra e eu sem olhar o mar,
Nunca fomos alimento suficiente para o amor.
Nunca fomos mais do que a explicação de um pequeno reino
Que vive com a parte de dentro do corpo exposta ao sol,
Para que os braços crespados pelas queimaduras
Nunca mais voltem a sonhar com barcos.
D.P.
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